10 junho, 2015

"Tudo isto existe; tudo isto é triste; tudo isto é fado."

Ser de princípio, moral e saberes, de Bem e Mal: coitado. Daqueles de essência volátil, vós sois o sal terra, profetizava o Santo António, que de mão dada com Erasmo ainda hoje se ri.

Mas esse ser profeta, quasi divino, quer-se livre.

E o homem livre quer-se, como a besta, domado e acorrentado; ancorado em porto de humildade imposta, acumula ferrugem e musgo nos grilhões submersos em água pútrida, estagnada. Afiguram-se-lhe duas hipóteses apenas: a resignação, fazendo fé que esta lhe garanta e a pena e, sobretudo, o pão solidário dos senhores, ou a ira, quebrando os ferros já corroídos de apatia, condenando a sua alma ao desprezo alheio. Assim, submeter-se-á ou à piedade insuportável dos verdadeiros Deuses ou ao ódio terreno dos mortais. Ambos queimam; ambos eternos.

Afortunado esse, em vida, se arrepende da decisão tomada; tanto mais se esta lhe assombra os sonhos enquanto suplica para que não acorde para um orgulho envenenado. Rasga-se por entre efemérides de felicidade embriagada, ocasionalmente preenchendo-se de sentimentos de vazio, de despropósito, e de resignação.

A esse os Deuses a sério sussurram: "Nunca te sentiste tão vivo como nos momentos em que quiseste morrer".




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