23 abril, 2013

Tomei por hábito a abstenção.

Do não fazer inventei mil formas de existir; a petulância de nem sequer discordar, o expoente máximo da arrogância.

Eis: da palavra já nem nada digo já que a essas leva-as o vento. Da moda se faz vício e de vício se faz mentira e a palavra está na moda. Abstenho-me. Sua filha é hipócrita, uma tal de acção. Essa ânsia a mim não me seduz, opto por ser pretensioso ao ponto de não ter pretensões.

Discorrendo em toda a forma, qual garganta funda e sem fundo, cegam-me os olhos as palavras tornadas símbolo, ensurdecem-me os ouvidos as palavras tornadas melodia, toldam-me a mente as palavras tornadas ideia. Chamam-lhe arte, cultura, identidade, geração, criação, vontade que faz o mover o mundo e eu pergunto: o que vem a seguir ao contemporâneo? Que "pós" podem eles agora inventar? Falácia esta insuportável, corrói-me a alma.

A cultura é contra, está na moda. O futuro é retro, está na moda. Indivíduo é aquele que pertence, que raio de moda!!

Assim, tornei-me vago. O meu último reduto será o desinteresse. Não direi que sim, nem que não. Nem sequer esboçarei expressão! A mim não me apanham, malvados! Eu sei que é tudo um truque, essa pinta já vos tirei!

O último recurso, em passando fome: posso sempre escrever discursos para alguém que me pague para os ler por mim.