20 fevereiro, 2015

Uma história de amor.

Ataca-me. Agora sim. Encosta-me à parede cinzenta, fria e inerte e deixa-me sentir teus golpes de sangue, movidos de ira, repletos de sentimentos indefinidos e uma raiva que já não agarras. O duelo dos opostos, entre o frio do cimento e o calor do teu ódio. A vida pertence-me, mesmo rastejando a teus pés. Tenho mais do que com alguma vez sonhamos, mais do que aquilo que seríamos capaz de sequer desejar ou imaginar e agora, hoje, é também teu. Sou teu. Sou tão livre apenas porque te libertei e agora entrego-me à tua fúria com um sorriso. Não um sorriso condescendente, muito menos resignado. Desafiador. Gosto de ti assim. De olhar incinerado. Nunca me pareceste tão bela, tão real e singular. Lasciva. Mas não te distraias, não me ouças se te pedir que pares. Lembra-te, isso que sentes é vida e o sangue que escorre são os seus filhos. Saboreia cada um dos meus esgares de dor, cada gota do meu sofrimento, deixa-me alimentar-te desta forma. Rasga-me o corpo, dilacera-me, desfigura-me e por fim incendeia-me a alma. Ouve-a gritar, ela ainda te quer. Ainda te ama. E como te é fiel! E nunca te vai abandonar.

E no fim voaremos juntos, como sempre.

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